Normalmente, quando falamos em comunicação efetiva já pensamos no ato de comunicar-se verbalmente.
Comum imaginarmos que comunicação envolve uma pessoa que conversa com outro alguém e, inclusive, imaginarmos a cena de interação entres eles.
Claro que essas imaginações são certas e, até mesmo, partes importantes para entender o funcionamento de uma conversa – não por acaso, elas foram lembradas aqui.
No entanto, elas não se configuram na totalidade da comunicação, e, por isso, não podemos deixar que você continue pensando que comunicação é o conjunto de emissor + palavras + interlocutor + contexto, apenas. O processo de comunicação está além disso.
Neste artigo você vai ver
Comunicação envolve mais que palavras
Precisamos entender que quando falamos sobre comunicação, e mais ainda sobre comunicação efetiva, não estamos dizendo apenas do ato de falar ou escrever.
Aliás, colocar a comunicação apenas como um ato de expressar-se verbalmente é um erro que reduz o campo de interação comunicativa.
A comunicação pode ser verbal e não-verbal. Isso significa que ela pode ser feita através das palavras, das imagens, do corpo e, também (claro!), dos objetos.
Comunicação efetiva
Quase certeza que vocês já devem ter lido em artigos da internet dizendo que comunicação efetiva é o ato de dar uma informação para outra pessoa de forma simples, concisa e rápida, ou seja, é uma comunicação que performa tão bem a ponto de garantir e gerar resultados.
Contudo, nem todos conseguem desenvolver e aplicar essa comunicação. Seja porque as pessoas são tímidas ou porque são prolixas e redundantes. Pode acontecer ainda da pessoa ser objetiva demais e pouco descritiva, ou mesmo muito exemplificativa e se perder.
Fato é que a comunicação efetiva, ou comunicação eficaz, é um sonho a ser alcançado por muitas pessoas e, principalmente, nas organizações de trabalho.
Mas, sejamos sinceros, esse sonho dificilmente será alcançado e isso pode ser bom.
Quer saber? Confira abaixo!
Comunicação é importante?
Obviamente, comunicar é importante para qualquer ocasião, uma vez que você pode resolver problemas a partir de um simples enunciado. Quem nunca ouviu do amigo ou da mãe que para resolver um problema basta conversar com a pessoa?
No entanto, é fácil comunicar-se com alguém (expressar um “— ah!” e estar com o corpo tremendo, ou um olhar despistado, é uma forma de comunicação), o difícil é como conversar com alguém. Esse é o grande problema.
As pessoas são diferentes umas das outras, e elas geralmente não vão receber uma notícia ou agir do modo que você deseja. São nestas situações de desvio de sentidos entre os interlocutores que uma comunicação efetiva se torna complexa de ser alcançada.
Por exemplo, você quer resolver um relatório do cliente que saiu com uma conta errada. Todos sabem que você é uma pessoa extrovertida e que prefere conversar e ter reuniões para resolver esses problemas. Contudo, a pessoa que você precisa conversar não gosta de reuniões e é introvertida. Para ela basta e-mails. Agora, imagine a cena dessa comunicação. Uma situação forçada e incômoda. Esse caso é uma forma de comunicação que podemos encontrar no dia a dia das empresas: embaraçosa.
Desse modo, a comunicação é importante? Sim, ela é! Mas se você não souber conversar e perceber o seu interlocutor, a comunicação será falha, incômoda e sem resultados. Essa crítica sobre o processo de uma mensagem serve para ambos — locutor e interlocutor.
Em tempos de discórdia
A discórdia é um bem imaterial da cultura brasileira. Quando um brasileiro tem a oportunidade de discordar de alguém, é sua brecha para evidenciar uma raiva ou angústia silenciadas.
O problema é que a discórdia em um ambiente coletivo pode ser um problema sério e, por essa razão, boa parte dos textos de comunicação na internet enfatizam o uso da comunicação não-violenta (CNV). Ou seja, você pode falar o que quiser, desde que busque usar palavras que sejam acolhedoras, descritivas e saiba ouvir.
Certa vez, em um curso sobre planejamentos de produto, aprendi que para conversar com alguém em uma reunião de brainstorming, você precisa introduzir o “se”: — ah, mas se você tirasse essa palavra do texto e colocasse outra? — e se você chegasse um pouco mais cedo no trabalho? — e se você trocasse a sua ideia pela minha? O “se” é uma partícula que possibilita tudo, especialmente quando você quer resolver discórdias que não geram resultados.
Contudo, a discórdia sempre existiu nesta terra (a frase do ovo e da galinha é um exemplo que poderia ser da primeira discórdia do mundo), possivelmente não haverá lugares sem discussões ou com opiniões iguais. Aliás, seria extremamente inconveniente se houvesse um lugar no qual os projetos fossem sempre os mesmos porque todos combinam no discurso. Basicamente, seria zero criatividade e argumentação. Esse é o problema da comunicação efetiva, direcionada ao pensamento da comunicação não-violenta, porque quem medeia sempre tem sua perspectiva voltada ao seu discurso.
Portanto, a discórdia é um tema complexo, porque primeiro precisamos chegar a um comum acordo entre os falantes (utilizar manobras enunciativas), ao mesmo tempo não podemos interrompê-los, se não o controlamos e silenciamos sua enunciação.
A discórdia silenciada (des)memoriza a criatividade, a expressão e a argumentação do sujeito – ou pior, ela fica escondida.
Desse modo, o problema não é discordar. O problema é se você está sendo um bom mediador/professor, ou seja, você sabe perceber o outro? Um professor quando faz sua licenciatura, passa boa parte do tempo na graduação estudando o conteúdo e outra parte do tempo percebendo o silêncio dos alunos.
O que significa o silêncio? O silêncio é o ruído do espaço, é aquele barulho que não sabemos definir. É algo que provavelmente não significaria nada em um contexto, mas que é perceptível se você é um bom observador. Por exemplo, uma pessoa argumentando com as mãos pode não ter sentido para uma discussão. Mas se você olhar o gesto, perceberá que há um ruído que pode expressar nervosismo, medo, ansiedade, prazer etc.
Por isso, não é uma tarefa tão simples perceber o outro, sobretudo mediar argumentos, porque é necessário primeiro mediar a si mesmo. Além disso, não queremos que o sentido de mediar seja visto como uma forma de controle, porque controle significa escolher entre o sim e o não.
Pelo contrário, desejamos que a mediação e a observação sejam uma forma de deslocar os argumentos em um círculo comunicativo, conforme os ruídos percebidos.
Aprenda sozinha, não tenho paciência para conversar
Mais um exemplo: a pessoa não entendeu o que você disse. Seu nível de atenção e compromisso com aquele sujeito já está acabando, e o que você mais deseja é terminar a conversa. É nessas horas que devemos saber se somos pessoas concentradas.
A meditação é uma boa prática para começar a se concentrar, porque ela ajuda a entender o comportamento (corporal e mental) e o nível de concentração perante o outro. Também ajuda a entender quando você deve parar.
Esses dias com meu namorado comentei de uma palestra que assisti sobre carreiras profissionais. Era legal a iniciativa do curso, especialmente para pessoas que se sentem atrasadas ou querem trocar de profissão.
Em uma parte dessa palestra, a pessoa disse: “— ah, mas você não pode esperar seu gestor resolver o problema. Você precisa aprender sozinho e encontrar meios para isso”.
Esse discurso da ministrante chamou a minha atenção, porque é uma tendência não só em áreas empresariais, mas da educação brasileira também – e Paulo Freire deve estar se perguntando em que parte errou –, em deixar o aprendiz a compreender tarefas e conteúdos sem ser mediado, inclusive ser abandonado no diálogo também.
Como falei anteriormente, saber mediar-se é um processo tão importante quanto comunicar algo a alguém. Aliás, você vai conseguir transmitir uma informação se souber mediar ambos os lados: escutar, entender o processo, ver qual é sua posição na conversa e dialogar. Ninguém aprende sozinho, nem os cargos mais qualificados.
A vida é um processo de pesquisa e paciência. E, aparentemente, a paciência é algo que aprendemos pouco, especialmente com o outro. Quantas vezes queremos ser rápidos, ágeis, direitos, eficientes e bons? Na verdade, deveríamos saber que tudo é um processo de crescimento e amadurecimento, e que boa parte desse desenvolvimento tarda a acontecer.
Portanto, é preciso que as organizações pensem mais em como mediar e ensinar – também – a comunicação entre seus trabalhadores, para que não se caia em uma aprendizagem em que a comunicação vai ser entendida através de palestras, feedbacks, aulas em grupos, reuniões, ou pior, sozinho.
Onde estão as dicas?
Já existem tantos textos na internet que não cabem mais dicas no contexto digital. Porém, deixarei 7 dicas para ajudar você nos momentos em que acha que errou, quando na verdade está sendo apenas um humano nesta terra:
- Escuta ativa – Você pode discordar do outro, mas o escute também. Como discordará do outro se não souber o que ele enuncia?
- Crie ambientes – Você quer conhecer o outro? Então crie um ambiente que seja confortável para ambos;
- Descanse a mente nas horas mais complicadas – Você pode ensinar, bem como pedir ajuda. Ninguém sabe de tudo. Todos aprendemos na vida com a prática e ninguém deve julgar você por não saber de algo;
- Comunique-se através das “coisas” – A comunicação não é só falar; é também dançar, abraçar, desenhar, sorrir, olhar e andar;
- Criatividade gera foco – Crie algo. Uma mente sem exercer a criatividade apenas gerará frustrações e falta de comunicação;
- Aprenda a mediar – Se a Apple conseguiu vender o Iphone com um preço altíssimo no mundo, você consegue mediar discussões ou problemas que aparecerem ao longo de um projeto. ATENÇÃO: a ideia não é convencer alguém (primordialmente), mas sim mostrar outros resultados possíveis às pessoas;
- Estude – Estude você, estude os outros, estude tudo. Aprenda a compreender que o mundo possui diversos contextos e problemas. A maioria dos problemas surgem quando nossos olhos são fechados para aquilo que nunca fizemos questão de perceber.
Por fim, poderíamos afirmar que comunicação efetiva não existe. O que existem são manobras que conduzem o argumento de um enunciador. Portanto, dizer que efetividade existe é o mesmo que afirmar que a construção do discurso será sempre de alguém ou algo.
Por outro lado, você pode fazer escolhas e modos de mediação (seja você escutando, deixando o outro discordar (falar) ou tendo paciência) que construam uma conversa que esteja no mesmo plano das ideias e no mesmo objetivo, ainda que os discursos de ambos sejam contraditórios entre si.
Este texto foi inspirado nos meus anos de pesquisadora na UFSCar, nas pessoas que passaram pela minha vida (meus amigos e professores) e nos podcasts do Braincast e do Hipster Ponto Tech.
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Comunicação muito violenta na quarentena