Antes de iniciarmos a discussão sobre a formação cultural de professores, podemos encarar este texto como uma certa continuação do artigo – também postado em nosso Blog – sobre a importância da intersecção entre as áreas de Educação e Cultura. Se você não leu, corre lá para entender do que estamos falando.
Pronto? Retomando, no texto referido, definimos o que compreendemos como Educação (ato político e prática de liberdade) e como Cultura (em seu sentido amplo e antropológico), além de abordar os pontos positivos da intersecção entre as duas áreas.
Por fim, o texto encerra com possibilidades desse caminho de junção entre Educação e Cultura, e é exatamente um desses caminhos que iremos abordar aqui: a formação cultural de professores. Mas, vamos dar “um passo para trás” e falar um pouco da formação pedagógica, de uma maneira geral.
Neste artigo você vai ver
O estereótipo do educador
Se você é professora, professor ou está se preparando para trabalhar na área, provavelmente já ouviu a seguinte frase: “Você é professora? Tem que ter muito amor!” ou “Para ser professor tem que ter um dom”.
A docência como missão/dom e a importância do amor que nós “devemos” ter ao ensinar é um discurso muito disseminado tanto pelo senso comum como entre profissionais da área, aparecendo, até mesmo, em discursos políticos e publicações oficiais.
Porém, esse discurso/pensamento precisa ser problematizado. Nós, não necessariamente, devemos trabalhar por amor! É fato que, se o sujeito se sente confortável com sua profissão e sente satisfação em exercer sua função, o processo educativo se desenvolve com maior significado. Mas essa premissa vale para todas as profissões. Segundo Orloski (2009, p.218), “todo educador, ou todo profissional, deve exercer o ofício com prazer, mas não podemos aceitar que seja apenas por prazer”.
Os discursos políticos que encaram a educação como doação/missão desconsideram a educação como ato político e descaracterizam a profissionalização dos professores, ou seja, contribuem para a contínua desvalorização do educador.
Assumimos a docência como profissão, assim como a medicina, a engenharia, a advocacia, entre outras. Portanto, o professor deveria ter, por parte da sociedade e do governo, reconhecimento pelos seus serviços prestados – e não, dar aula não é um “hobby”, como muitos ainda acreditam.
Formação de professores: como ocorre?
A formação de professores em geral, e no Brasil, ocorre em duas modalidades: inicial e contínua. A formação inicial é caracterizada pelos cursos de licenciatura oferecidos por Universidades e Faculdades, formando tanto pedagogos como especialistas nas mais diversas áreas (Matemática, História, Geografia, Física, Ciências Sociais etc.).
Por sua vez, a formação contínua leva em consideração que a aprendizagem é um processo contínuo. Assim, os professores que já estão inseridos no mundo do trabalho educacional, procuram aperfeiçoar seus conhecimentos e melhorar a qualidade de suas práticas profissionais.
A formação contínua pode ser fornecida por meio de cursos e/ou eventos formativos presentes nas próprias escolas (Formação Contínua em Serviço), e por meio de parcerias com universidades ou instituições de ensino superior (ou outras), de maneira geral. Também pode ocorrer por iniciativa do próprio professor, com base nos seus interesses e na sua prática docente.
Portanto, os professores podem até trabalhar por amor, mas também trabalham porque são formados para isso. Trabalham porque precisam do dinheiro, porque acreditam na educação, porque anseiam por uma sociedade mais justa (e isso não é uma regra, são apenas exemplos). O amor pelos alunos existe, mas essa não é a base que sustenta a carreira do professor.
É importante que consideremos os professores como intelectuais críticos, protagonistas de seu processo de transformação individual, para, dessa forma, poderem contribuir no processo formativo dos educandos, em conjunto. E afirmamos: para educar, é preciso educar-se.
Formação cultural de professores: para quê?
Para explicar a importância da formação cultural, é preciso retomar algumas afirmações importantes:
1. A formação no Brasil ocorre, basicamente, em dois níveis: inicial e contínua.
2. Os professores são profissionais formados.
3. É preciso aprender para ensinar.
4. A intersecção entre as áreas da educação e cultura é fundamental para a transformação social.
Agora, vamos refletir sobre nossas práticas, enquanto professores, frente às manifestações culturais: você costuma ir ao cinema? Qual tipo de filme assiste? Você frequenta teatros? Qual a sua peça preferida? E os museus, você tem hábito de ir? Qual seu artista preferido? Com qual frequência você lê livros?
Essas perguntas são fundamentais para essa discussão, assim como é importante pensarmos em como nos relacionamos com a cultura e como levamos isso para nossos estudantes.
Como exemplo da importância da formação cultural, temos uma pesquisa realizada pela UNESCO, “O perfil dos professores brasileiros: o que pensam, o que almejam”, que promove um debate sobre os problemas enfrentados pelos profissionais da educação e como superá-los. Vale a pena conferir!
Um dos caminhos para a intersecção entre as áreas da educação e da cultura é a formação cultural dos professores e, para que isso ocorra, é necessário ampliar o repertório cultural desses profissionais.
Dessa forma, é preciso garantir o acesso à diversidade de manifestações culturais, a partir das mais diversas experiências, indo além do que a indústria cultural propõe. Além disso, é preciso criar condições para que os professores se humanizem e melhorem sua atuação educativa junto às crianças, compreendendo educação e cultura como formas de transformação (pessoal, social, política).
Mas como promover a formação cultural?
A formação cultural de professores pode (e deve) acontecer no âmbito da formação inicial (na Universidade/Faculdade), através das disciplinas cursadas, na relação com os professores e entre os pares. Visitas a museus, estudos de artistas, indicações literárias, música, dança etc. deveriam ser ensinados/aprendidos desde o momento em que iniciamos nosso caminho universitário.
Mas ela também pode ocorrer de forma contínua, partindo das próprias escolas a vivência nas instituições de Cultura, promovendo cursos, ressaltando artistas, estabelecendo parcerias com museus (que também oferecem cursos para professores), criando grupos de estudos etc.
Os modos como essa formação pode ocorrer são amplos, assim como a cultura. Formar os professores culturalmente é transformar esses sujeitos, é dar vida nova! E, consequentemente, transformar também a realidade dos estudantes.
Um professor que vivencia a cultura levará também seus alunos por esse caminho, o que é absolutamente necessário para a mudança da realidade. Aliás, estamos precisando dessa mudança…
Tipo de conteúdo | Link de acesso |
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#artigo | Educação e Cultura: a importância da intersecção entre elas, por Jessica Sacuman. |
#dissertação | Formação Cultural de Professores: perspectivas a partir da análise de ações educativas em Museus da cidade de São Paulo, de Jessica Sacuman (Dissertação de Mestrado). |
#pesquisa | O perfil dos professores brasileiros: o que pensam, o que almejam - UNESCO (2004). |